#027 | Destilação
Há processos que não fazem barulho, mas transformam tudo.
Destilar é um deles.
Na alquimia, a destilação era um modo de separar o essencial do excesso.
De purificar sem violência.
De elevar o que é denso em vapor para que algo mais sutil pudesse surgir.
Assim também é com a alma.
Há dias em que estamos saturados de palavras não ditas, promessas quebradas, micro decepções. Pequenos cacos emocionais que não sangram, mas arranham por dentro.
E o curioso é que, às vezes, tudo o que precisamos…
não é de mais estímulo, mais informação ou mais velocidade
mas de um processo interno de decantação e clareza.
A destilação da presença.
Da respiração.
Do silêncio.
Talvez você já tenha sentido isso:
quando, de repente, um banho demorado, um chá quente, um canto vazio da casa…
te devolvem a si mesmo.
Não porque resolveram o problema,
mas porque te lembraram do que é essencial.
E o essencial, quando visto de verdade, dissolve muito do que parecia urgente.
Vivemos cercados de distrações.
Mas existe, dentro de nós, um laboratório.
Silencioso, mas ativo.
Que sabe com tempo, com cuidado, com compaixão
separar o que te envenena do que te nutre.
Esse processo não é rápido. Nem automático.
Mas é sagrado.
E é dele que nascem os instantes em que, enfim, conseguimos respirar fundo
e sentir que voltamos para casa.
Dentro de nós.